segunda-feira, 7 de junho de 2010

MANUEL ALEGRE- POETA CANDIDATO


CANDIDATURA À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA EM 2011

Manuel Alegre

Pintura: Carlos Botelho



TROVA DO VENTO QUE PASSA
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio — é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre

BIOGRAFIA
Nascimento12 de Maio de 1936 (74 anos)
Águeda
Nacionalidade PORTUGAL
OcupaçãoEscritor, poeta, político
Principais trabalhosPraça da Canção; O Canto e as Armas;Alma;Cão Como Nós


Filho de José de Faria de Sousa e Melo Ferreira Duarte e de Maria Manuela Alegre de Melo Duarte, a sua família tem referências na política e no desporto – o seu trisavô paterno, Francisco da Silva Melo Soares de Freitas, fundador dos caminhos de ferro do Barreiro e primeiro Visconde dessa localidade, esteve nas revoltas contra D. Miguel I, tendo sido decapitado; o avô materno, Manuel Ribeiro Alegre, pertenceu à Carbonária e foi deputado à Assembleia Constituinte em 1911, bem como Governador Civil de Santarém; o bisavô paterno, Carlos de Faria e Melo, 1º barão de Cadoro, foi administrador do Concelho de Aveiro; o avô paterno, Mário Ferreira Duarte introduziu, com Guilherme Pinto Basto, várias modalidades desportivas em Portugal, e deu o seu nome ao antigo Estádio de Futebol de Aveiro; o seu pai, Francisco José de Faria e Melo Ferreira Duarte, jogou na Académica e foi campeão de atletismo – o próprio Manuel Alegre sagrou-se campeão nacional de natação e foi atleta internacional da Associação Académica de Coimbra nessa modalidade. A sua infância e juventude encontram-se retratadas no romance Alma (1995).
À excepção dos primeiros estudos, feitos em Águeda, o restante percurso escolar é marcado por constantes mudanças de estabelecimentos de ensino: fez o primeiro ano do liceu no Passos Manuel, em Lisboa, no segundo esteve três meses como aluno interno no Colégio Almeida Garrett, no Cartaxo, seis meses no Colégio Castilho, em São João da Madeira e depois foi para o Porto, concluíndo os estudos secundários no Liceu Alexandre Herculano. Aí fundou, com José Augusto Seabra, o jornal Prelúdio.
Vai, em 1956, para a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Pouco depois inicia o seu percurso político, nos grupos de oposição estudantil ao Estado Novo. Torna-se militante do Partido Comunista Português em 1957. Enquanto membro da Comissão da Academia, apoiou (em 1958) a candidatura de Humberto Delgado à Presidência da República. Não teve menor relevo na actividade cultural: participou na fundação do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra e foi actor do Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra, deslocando-se para actuar em Bruxelas (1958), Cabo Verde (1959) e Bristol (1960).
Em 1960 publica poemas nas revistas Briosa (que dirigiu), Vértice e Via Latina, participando ainda na colectânea A Poesia Útil e Poemas Livres, juntamente com Rui Namorado, Fernando Assis Pacheco e José Carlos Vasconcelos.
Em 1961 é chamado a cumprir serviço militar e assenta praça na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, de onde saía, pouco depois, para a Ilha de São Miguel. Aí desencadeia o movimento de Juntas de Acção Patriótica de Estudantes, constituídas por militares e civis. Além disso chega a traçar, com Melo Antunes e outros, um plano para tomar conta da ilha, que não se concretiza. Em 1962 é mobilizado para Angola, onde é preso pela PIDE e condenado a seis meses de reclusão na Fortaleza de S. Paulo, em Luanda, acusado de tentativa de revolta militar contra a Guerra do Ultramar. Na cadeia conhece escritores angolanos como Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso. Regressa a Portugal em 1964. A ameaça de nova detenção e de julgamento pelo Tribunal Militar leva-o a passar à clandestinidade e a partir para o exílio, tendo sido auxiliado pelo poeta João José Cochofel, que o esconde no norte do país.
Chegado a Paris em Julho de 1964, participa na Terceira Conferência e é eleito para a Direcção da Frente Patriótica de Libertação Nacional (presidida por Humberto Delgado). Isto dar-lhe-á a possibilidade de depor, como representante dessa organização, perante as Nações Unidas, sobre a sua experiência em Angola, e contactar com os líderes dos movimentos africanos de libertação, como Agostinho Neto, Eduardo Mondlane, Samora Machel, Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade e Aquino de Bragança. Entre 1964 e 1974 está exilado em Argel, onde é locutor da emissora A Voz da Liberdade. Entretanto, os seus dois primeiros livros, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967), circulam clandestinamente. Poemas seus, cantados por Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, tornam-se emblemáticos da chamada resistência. Em 1968 entra em ruptura com o Partido Comunista Português, em consequência dos acontecimentos da Primavera de Praga, em 1968, e da invasão das forças do Pacto de Varsóvia naquele país.
Regressa a Portugal a 2 de Maio de 1974. Entra nos quadros da Radiodifusão Portuguesa, como director dos Serviços Recreativos e Culturais, e é um dos fundadores (com Piteira Santos, Nuno Bragança e outros) dos Centros Populares 25 de Abril, que pretendiam um papel cívico complementar ao dos partidos. Ainda em 1974 adere ao Partido Socialista, de que foi dirigente nacional, e é eleito deputado à Assembleia Constituinte, em 1975. É deputado à Assembleia da República a partir de 1976, integrando também o I Governo Constitucional (de Mário Soares), primeiro como Secretário de Estado da Comunicação Social, depois como Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro para os Assuntos Políticos. Também no Parlamento foi presidente da Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros, vice-presidente da Delegação Parlamentar Portuguesa ao Conselho da Europa, vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS e vice-presidente da Assembleia da República. Em 2004 foi candidato a secretário-geral do PS, perdendo para José Sócrates e, em 2005, foi candidato independente às eleições presidenciais, obtendo mais votos que Mário Soares, então candidato oficial do PS. É membro do Conselho de Estado e das Ordens Honoríficas de Portugal. É coordenador do Movimento de Intervenção e Cidadania. É, novamente, candidato à Presidência em 2011.
No total foi deputado 34 anos. Quando abandonou o parlamento passou a acumular à sua reforma de 3219 euros como aposentado da RDP, uma subvenção vitalícia superior a dois mil euros mensais.[1].
Além da actividade política, salienta-se o seu proeminente labor literário, quer como poeta, quer como ficcionista, sendo a sua obra dominada, tanto pelo espírito combativo, como pela amargura da prisão. É o único autor português incluído na antologia Cent poemes sur l'exil, editada pela Liga dos Direitos do Homem, em França (1993). Entre os seus inúmeros poemas musicados contam-se a Trova do vento que passa. Pelo conjunto da sua obra recebeu, entre outros, o Prémio Pessoa (1999), sendo de mencionar também o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1998). É sócio-correspondente da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa, eleito em 2005.

OBRA

POESIA

  • 1965 - Praça da Canção
  • 1967 - O Canto e as Armas
  • 1971 - Um Barco para Ítaca
  • 1976 - Coisa Amar (Coisas do Mar)
  • 1979 - Nova do Achamento
  • 1981 - Atlântico
  • 1983 - Babilónia
  • 1984 - Chegar Aqui
  • 1984 - Aicha Conticha
  • 1991 - A Rosa e o Compasso
  • 1992 - Com que Pena – Vinte Poemas para Camões
  • 1993 - Sonetos do Obscuro Quê
  • 1995 - Coimbra Nunca Vista
  • 1996 - As Naus de Verde Pinho
  • 1996 - Alentejo e Ninguém
  • 1997 - Che
  • 1998 - Pico
  • 1998 - Senhora das Tempestades
  • 2001 - Livro do Português Errante
  • 2008 - Nambuangongo, Meu Amor
  • 2008 - Sete Partidas

FICÇÃO

OUTROS

  • 1997 - Contra a Corrente (discursos e textos políticos)
  • 2002 - Arte de Marear (ensaios)
  • 2006 - O Futebol e a Vida, Do Euro 2004 ao Mundial
  • 2006 - (Crónicas)

Foi candidato à Presidência da República em 2006

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Corrente de amigos por Manuel Alegre!

O RIO QUE CORRE

Na tua rua o rio que corre
Ao sabor da chuva e vento...
Nunca se houve um lamento,
Nem mesmo quando morre!

Vai correndo de mansinho
Sempre ao jeito da corrente,
Nas margens aconchegadinho...
Sentindo o que só ele sente!

O rio que corre na rua
Como corrente de amigos...
De histórias e contos antigos,
Tem a alma sempre nua!

Acredita que vai correr
Esse rio para o mar,
Porque olhando vais ver...
Um brilho no teu olhar!

Rio!... Docemente a sorrir
Nos olhos de uma criança…
A verdadeira esperança
Que um dia hás-de sentir!!!


Matias José

4 comentários:

Anónimo disse...

Eu apoio e sou mais um elo da corrente. As poesias de Manuel Alegre e Matias José lindíssimas... VIVAM OS POETAS!!!!!!!

Anónimo disse...

Manuel Alegre é um socialista de esquerda, razão porque o Mário Soares o odeia. Mas vai ter que o gramar!

Anónimo disse...

Gostei muito da postagem, muito oportuna!

Anónimo disse...

FORÇA MANUEL ALEGRE A ESQUERDA ESTÁ CONTIGO!!!