domingo, 12 de setembro de 2010

SÉRGIO VIEIRA DE MELO

Oito anos se passaram sobre a nomeação  de Sérgio Vieira de Melo, para o cargo de Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Morreu no ano seguinte, 2003, vítima de um atentado perpetrado pela Al Qaeda, em Bagdad. Poet'anarquista recorda aquele que foi um grande humanista, com especial talento para a negociação em defesa dos valores democráticos.
Poet'anarquista
  
Sérgio Vieira de Melo
Defensor dos Direitos Humanos  

BIOGRAFIA
Sérgio Vieira de Mello (Rio de Janeiro, 15 de março de 1948 - Bagdad, 19 de Agosto de 2003) foi um diplomata brasileiro, funcionário da Organização das Nações Unidas por 34 anos e Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos desde 2002. Morreu em Bagdad, juntamente com outras 21 pessoas, vítima de atentado atribuído à Al Qaeda contra a sede local da ONU.

Filho do embaixador Arnaldo Vieira de Mello, posteriormente aposentado compulsoriamente pelo regime militar de 1964, e de Gilda dos Santos, Sérgio Vieira de Mello acompanhou o seu pai em várias missões pelo mundo. Depois de cursar o colegial no Colégio Franco-Brasileiro do Rio de Janeiro, estudou na Universidade de Paris (Sorbonne) onde obteve a sua Licenciatura e o Mestrado para o Ensino em Filosofia, em 1969 e 1970, respectivamente. Durante os quatro anos que se seguiram, Vieira de Mello, prosseguiu os seus estudos de Filosofia na Universidade de Paris I , (Panthéon-Sorbonne), ao fim dos quais obteve um Doutoramento do Terceiro Ciclo e, em 1985 o Doutorado de Estado em Letras e Ciências Humanas, sustentando a tese Civitas Maxima.

Era funcionário da ONU desde 1969 - mesmo ano em que seu pai deixara a diplomacia. Passou a maior parte da sua vida trabalhando no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR, ou ACNUR, em português), servindo em missões humanitárias e de manutenção da paz: em Bangladesh, durante a sua independência, em 1971; no Sudão e em Chipre, após a invasão turca de 1974. Por três anos foi responsável pelas operações do UNHCR em Moçambique, durante a guerra civil que se seguiu à independência do país, em 1975, e depois, no Peru.

Em 1981 foi nomeado conselheiro político senior das forças da ONU no Líbano. Em 1982, ao lado das forças de paz, a invasão do país por Israel, em desacordo com resoluções da ONU, foi uma amarga decepção. Depois disso, desempenhou diversas funções importantes, no UNHCR, de 1983 a 1991. Foi chefe do Departamento Regional para Ásia e Oceania e diretor da Divisão de Relações Externas.

Entre 1991 e 1996, foi enviado especial do Alto Comissário ao Camboja, como diretor do repatriamento da Autoridade da ONU de Transição no Camboja (U.N. Transitional Authority in Cambodia, UNTAC), tendo sido o primeiro e único representante da ONU a manter conversações com o Khmer Vermelho. Foi Diretor da United Nations Protection Force (UNPROFOR), a primeira força de paz na Croácia e na Bósnia e Herzegovina, durante as guerras da Iugoslávia. Foi também Coordenador humanitário da ONU na região dos Grandes Lagos Africanos.

Em 1996 foi nomeado assistente do Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, antes de ser enviado para Nova Iorque, em janeiro de 1998, como Secretário-geral-adjunto para Assuntos Humanitários das Nações Unidas.

Para muitos, o diplomata brasileiro era a personificação do que a ONU poderia e deveria ser: com uma disposição fora do comum para ir ao campo de ação, corajoso, carismático, flexível, pragmático e muito eficiente na negociação com governos corruptos e ditadores sanguinários, em busca da paz.

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmava que Vieira de Mello era "a pessoa certa para resolver qualquer problema". Foi o primeiro brasileiro a atingir o alto escalão da ONU. Como negociador da ONU actuou em alguns dos principais conflitos mundiais - Bangladesh, Camboja, Líbano, Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Ruanda e Timor-Leste, entre 1999 e 2002, quando se mostraria inflexível nas denúncias dos crimes indonésios. E por fim, no Iraque, onde foi morto durante o ataque suicida ao Hotel Canal, com a explosão provocada por um camião-bomba. O Hotel Canal era usado como sede da ONU em Bagdad há mais de uma década.

Além dos 22 mortos, cerca de 150 pessoas ficaram feridas no ataque - o mais violento realizado contra uma missão civil da ONU até então. Atribuído pelos Estados Unidos à rede Al Qaeda, o ataque provocou a retirada dos funcionários estrangeiros da organização do território iraquiano.

Segundo o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, momentos depois da explosão, Vieira de Mello telefonou para a ONU do seu celular, falando sobre a situação. Ele permaneceu preso sob os escombros durante mais de três horas. Entretanto, segundo Samantha Power, que entrevistou mais de 400 pessoas (diversas das quais presentes no local da explosão) para escrever o livro "O homem que queria salvar o mundo", Vieira de Mello comunicou-se apenas com a equipa de resgate e com Carolina Larriera, sua companheira, através de um buraco nos escombros. Ainda segundo Samantha Power, os contactos telefónicos com a sede da ONU em Nova Iorque partiram de Ramiro Lopes da Silva, vice de Vieira de Mello e funcionário responsável pela segurança. O chefe da administração civil dos EUA no Iraque, Paul Bremer, disse que possivelmente Vieira de Mello teria sido o alvo do atentado. "Tudo aconteceu debaixo da janela de Sérgio Vieira de Mello. Eu acho que ele era o alvo", disse Lone à rede BBC.

Vieira de Mello era considerado por muitos como o virtual sucessor de Kofi Annan na Secretaria-Geral das Nações Unidas. Apesar de frequentemente confrontar-se com a impotência da ONU diante de tragédias humanas, a sua biografia prova que ainda existe algo a ser defendido na organização.

Desempenhou temporariamente as funções de representante especial do Secretário Geral Kofi Annan no Kosovo, onde foi substituído por Bernard Kouchner. De novembro de 1999 a maio de 2002, exerceu o cargo de administrador de transição da ONU em Timor-Leste. Em 12 de setembro de 2002, foi nomeado Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

Em maio de 2003 fora indicado pelo secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, como seu representante especial, durante quatro meses no Iraque.

Sérgio Vieira de Mello foi enterrado no cemitério de Plainpalais (Cimetière des Rois), em Genebra. Alguns meses após o atentado, a ONU realizou uma homenagem póstuma, entregando o Prêmio de Direitos Humanos das Nações Unidas àquele que foi um dos mais importantes diplomatas do Brasil e da entidade.

Com a sua esposa francesa, Annie, de quem estava separado, Mello teve dois filhos: Laurent e Adrien, ambos actuando na área científica.

LEGADO
Vieira de Mello obteve êxito e visibilidade no cenário internacional pela sua atividade profissional. Até à sua trágica morte, apoiou a reconstrução de comunidades afectadas por guerras e violências extremas. O seu modelo de actuação, pela firme defesa dos princípios da independência e da imparcialidade, foi o Diplomata Sueco Dag Hammarskjöld (1905-1961), ex-Secretário Geral das Nações Unidas, morto a serviço da ONU em missão de paz no Congo (1961), e Prémio Nobel da Paz (1961). O carácter humanista da formação de Mello, associado ao seu talento para a negociação e a defesa da democracia, mesmo em situações adversas, foram factores-chave do sucesso de muitas das suas iniciativas. O seu exemplar desempenho em defesa dos direitos e dos valores humanos inspira a perpetuação da sua memória e o permanente debate do seu pensamento.
Fonte: Wikipédia

2 comentários:

poetamaurilio disse...

O caráter e o currículo deste homem dispensa mais comentários. Você já disse tudo, meu caro poet'anarquista. Foi muito chocante,traumatizante e trágico perdê-lo daquela forma. Justamente um homem que fazia diferença no mundo! Que os brasileiros reconheçam mais suas personalidades! Obrigado por lembrar Vieira de Melo.

Camões disse...

O seu exemplo Humanista e defensor dos Direitos Humanos nunca será esquecido! Há homens que perduram para lá dos tempos...

É tudo uma questão de tempo,
Mas o tempo não me diz nada...
Surge sempre um contratempo
Quando é morte não esperada!

E que contratempo!...

POETA