terça-feira, 30 de novembro de 2010

FERNANDO PESSOA

No dia 30 de Novembro do ano de 1935, com 47 anos de idade falecia Fernando António Nogueira Pessoa, vítima de cirrose hepática. Foi um dos maiores poetas da língua portuguesa e da literatura universal, comparado muitas vezes com o grande Luís Vaz de Camões. Passados que são 75 anos da sua morte, Poet'anarquista recorda-o no espaço Amigos d'Arte com breve nota biográfica e poesia, bem como dedicatória poética de Matias José.
Poet'anarquista


O POETA CRIATIVO

Fernando Pessoa

BREVE BIOGRAFIA
13-06-1888/ 30-11-1935
Nasceu Fernando António Nogueira Pessoa em Lisboa, no dia 13 de Junho de 1888, filho de Maria Madalena Pinheiro Nogueira e de Joaquim de Seabra Pessoa. Fernando Pessoa, um dos expoente máximos do modernismo no século XX, considerava-se a si mesmo um «nacionalista místico». 

A juventude é passada em Lisboa, alegremente, até à morte do pai em 1893 e do irmão Jorge no ano seguinte. Estes acontecimentos, em conjunto com o facto de sua mãe ter conhecido o cônsul de Portugal em Durban, levam-no a viajar para a África do Sul. Aí vive entre 1896 e 1905. À vivência nesse país da Commonwealth pode atribuir-se uma influência decisiva ao nível cultural e intelectual, pondo-o em contacto com os grandes autores de língua inglesa.

O Regresso a Portugal, com 17 anos, é feito com o intuito de frequentar o curso de Letras. Viveu primeiro com uma tia, na rua de S. Bento e depois com a avó paterna, na Rua da Bela Vista à Lapa. Mas com o fracasso do curso (frequentou-o poucos meses), governa-se apenas com o seu grande conhecimento da língua inglesa, trabalhando com diversos escritórios em Lisboa em assuntos de correspondência comercial.

Ficou sobretudo conhecido como grande prosador do modernismo (ou futurismo) em Portugal. Expressando-se tanto com o seu próprio nome, como através dos seus heterónimos. Entre estes ficaram famosos três: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Sendo que as suas participações literárias se espalhavam por inúmeras publicações, das quais se destacam: Athena, Presença, Orpheu, Centauro, Portugal Futurista, Contemporânea, Exílio, A Águia, Gládio. Estas colaborações eram tanto em prosa como em verso.

Teve uma paixão confessa - Ophélia Queirós - com a qual manteve uma relação muitas das vezes distante, se bem que intensa. Mas foi talvez Ophélia a única a conhecer-lhe o lado menos introspectivo e melancólico. 

O seu percurso intelectual dificilmente se descreve em poucas linhas. É sobretudo o relato de uma grande viagem de descoberta, à procura de algo divino mas sempre desconhecido. Essa procura efectuou-a Pessoa com recurso a todas as armas - metafísicas, religiosas, racionalistas - mas sem ter chegado a uma conclusão definitiva, enfim exclamando que todos os caminhos são verdadeiros e que o que é preciso é navegar (no mundo das ideias).

Os últimos anos são vividos em angústia. Os seus projectos intelectuais não se realizam plenamente, nem sequer parcialmente. Talvez os seus objectivos fossem à partida demasiado elevados... Certo é que esta falta de resultados concretos o deita a um desespero cada vez mais profundo. Foi um profeta que esperava a realização da sua profecia, mas que morreu sem ver sequer o principio da sua realização.

Fernando Pessoa morre a 30 de Novembro de 1935, de uma grave crise hepática induzida por anos de consumo de álcool, no hospital de S. Luís. Uma pequena procissão funerária levou o corpo a enterrar no Cemitério dos Prazeres. Em 1985, por ocasião do cinquentenário da sua morte, os seus restos mortais foram transladados para o Mosteiro dos Jerónimos em Belém. Em vida apenas publicou um livro em Português: o poema épico Mensagem, deixando um vasto espólio que ainda hoje não foi completamente analisado e publicado.

Poesia

FITO-ME FRENTE A FRENTE (II)

Fito-me frente a frente
E conheço quem sou.
Estou louco, é evidente,
Mas que louco é que estou ?

É por ser mais poeta
Que gente que sou louco ?

Ou é por ter completa
A noção de ser pouco ?


Não sei, mas sinto morto
O ser vivo que tenho.
Nasci como um aborto,
Salvo a hora e o tamanho.


Fernando Pessoa

NÃO DIGAS NADA!  

Não digas nada!

Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender - 
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer
 
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz  
Não digas nada.

Fernando Pessoa

COMO É POR DENTRO OUTRA PESSOA

Como é por dentro outra pessoa

Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Como que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento. 

Nada sabemos da alma  
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.

Fernando Pessoa
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Poemas de Matias José : Homenagem a "Como é por dentro outra pessoa" e ao grande poeta Fernando Pessoa.

A  Alma De Outra Pessoa

A alma de outra pessoa
Quem o poderá saber
Ou pensar?...
Como um som que ecoa
Repercutindo sem se ver,
Soa sempre sem parar!

A alma é um mundo escondido,
Um segredo bem guardado
Sem nunca se conhecer....
Qual espelho partido,
Em mil pedaços quebrado
E nada ali para se ver!

A única coisa que sabemos
Quando pensamos na alma,
É dela nada sabermos...
Não saber se a temos,
Se ela nos acalma,
Ou mesmo a queremos!

Matias  José

A INCOMPARÁVEL LEVEZA DO SER

Já tinha escrito sobre esta beleza,
Assim Pessoa a enalteceu…
As palavras são com certeza
O melhor que Deus nos deu!

O tempo não me interessa
Na distância percorrida,
Qualquer coisa com pressa
Espera uma nova partida.

Na procura de um lugar
Onde amar sempre quis,
Encontrei o teu olhar
E por instantes fui feliz!

A incomparável leveza do ser
Entrou num coração;
Mais querer... é nada querer,
Que o resto urtigas são!!!

Matias  José

Ainda a propósito de Pessoa ... 


Coisas Que Acontecem

"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram...mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis!"

Fernando Pessoa

Matias José sobre "Coisas que acontecem"...

O Valor das Coisas:

Está em tudo o que pomos
E como o fazemos...
Tudo quanto somos,
Ou tanto as queremos!

Tempo Que Duram:

Mais importante que o tempo
Que duram sem ter medida,
É o instante momento
Fazendo parte dessa vida!

Intensidade:

Pode ser maior, ou menor,
Intensa, ou nem por isso;
Não há coisa melhor,
Intensidade é mesmo um vício!

Momento Inesquecível:

O momento inesquecível
Em que escrevo esta poesia...
De todos, o mais apetecível,
Cada dia é seu dia!

Coisas Inexplicáveis:

Às vezes não consigo explicar
O que vai dentro de mim,
Se me quero libertar
Amarrado até ao fim?!

Pessoas Incomparáveis:

A incomparável leveza do ser
Entrou num coração...
Mais querer, é nada querer
Que o resto urtigas são!

Matias José

2 comentários:

Anónimo disse...

Para mim, e esta é uma opinião pessoal, o maior poeta de todos os tempos e de todos os mundos.

O GÉNIO DA ESCRITA... GRANDE FERNANDO PESSOA!

Sobre os poemas de Matias José interpretando a escrita de Fernando Pessoa: "só quem tem alma poética sente e descreve as palavras de um grande poeta".

MUITO BOM!

Anónimo disse...

Dá gosto visitar este espaço de cultura intemporal.

Muitos parabéns!