segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

POESIA - MIGUEL TORGA

Corria o ano de 1995, mais precisamente o dia 17 de Janeiro. Falecia em Coimbra Adolfo Correia Rocha, de pseudónimo Miguel Torga, um dos mais importantes escritores do séc. XX. Assinala-se hoje, 17 de Janeiro de 2011, 16 anos do desaparecimento de um grande poeta e humanista português. Neste espaço o recordamos prestando singela homenagem!
Poet'anarquista
Miguel Torga
Escritor Português
BIOGRAFIA
Oriundo de uma família humilde de Sabrosa, Adolfo Correia Rocha, com o pseudónimo de Miguel Torga, nascido em São Martinho de Anta a 12 de Agosto de 1907, era filho de Francisco Correia Rocha e Maria da Conceição Barros. Em 1917, aos dez anos, foi para uma casa apalaçada do Porto, habitada por parentes da família. Fardado de branco, servia de porteiro, moço de recados, regava o jardim, limpava o pó, polia os metais da escadaria nobre e atendia campaínhas. Foi despedido um ano depois, devido à constante insubmissão. Em 1918 foi mandado para o Seminário de Lamego, onde viveu um dos anos cruciais da sua vida. Estudou Português, Geografia e História, aprendeu latim e ganhou familiaridade com os textos sagrados. Pouco depois comunicou ao pai que não seria padre.
Emigrou para o Brasil em 1920, ainda com doze anos, para trabalhar na fazenda do tio, proprietário de uma exploração de café. Ao fim de quatro anos, o tio apercebe-se da sua inteligência e patrocina-lhe os estudos liceais, em Leopoldina. Distingue-se como um aluno dotado. Em 1925, na convicção de que ele havia de vir a ser doutor em Coimbra, o tio propôs-se pagar-lhe os estudos, como recompensa dos cinco anos de serviço, o que o levou a regressar a Portugal. Em dois anos acaba os estudos liceais.
Em 1928 entra para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro de poemas, Ansiedade. Em 1929, com vinte e dois anos, deu início à colaboração na revista Presença, folha de arte e crítica, com o poema Altitudes. A revista, fundada em1927 pelo grupo literário avançado de José Régio, Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, era bandeira literária do grupo modernista e era também, bandeira libertária da revolução Modernista. Em 1930 rompe definitivamente com a revista Presença, por «razões de discordância estética e razões de liberdade humana».
É bastante crítico da praxe e das restantes tradições académicas, e chama depreciativamente «farda» à capa e batina, mas ama a cidade de Coimbra, onde viria também a exercer a sua profissão de médico a partir de 1939 e onde escreve a maioria dos seus livros. Em 1933 concluiu a licenciatura em Medicina, com apoio do tio do Brasil. Começou a exercer a profissão nas terras agrestes transmontanas, de resto, o pano de fundo de grande parte da sua obra.
Casou-se com Andrée Crabbé em 1940, uma estudante belga que, enquanto aluna de Estudos Portugueses, com Vitorino Nemésio em Bruxelas, viera a Portugal fazer um curso de verão na Universidade de Coimbra. O casal teve uma filha, Clara Rocha, nascida a 3 de Outubro de 1955, e divorciada de Vasco Graça Moura.
A ORIGEM DO PSEUDÓNIMO
Em 1934, aos 27 anos, Adolfo Correia Rocha autodefine-se pelo pseudónimo que criou, "Miguel" e "Torga". Miguel, em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. Já Torga é uma planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule incrivelmente rectilíneo.
A sua campa rasa em São Martinho de Anta tem uma torga plantada a seu lado, em honra ao poeta.
A OBRA DE TORGA
A obra de Torga tem um carácter humanista: criado nas serras trasmontanas, entre os trabalhadores rurais, assistindo aos ciclos de perpetuação da Natureza, Torga aprendeu o valor de cada homem, como criador e propagador da vida e da Natureza: sem o homem, não haveria searas, não haveria vinhas, não haveria toda a paisagem duriense, feita de socalcos nas rochas, obra magnífica de muitas gerações de trabalho humano. Ora, estes homens e as suas obras levam Torga a revoltar-se contra a Divindade Transcendente a favor da imanência: para ele, só a humanidade seria digna de louvores, de cânticos, de admiração: (hinos aos deuses, não/os homens é que merecem/que se lhes cante a virtude/bichos que cavam no chão/actuam como parecem/sem um disfarce que os mude).
Para Miguel Torga, nenhum deus é digno de louvor: na sua condição omnisciente é-lhe muito fácil ser virtuoso, e enquanto ser sobrenatural não se lhe opõe qualquer dificuldade para fazer a Natureza - mas o homem, limitado, finito, condicionado, exposto à doença, à miséria, à desgraça e à morte é também capaz de criar, e é sobretudo capaz de se impor à Natureza, como os trabalhadores rurais trasmontanos impuseram a sua vontade de semear a terra aos penedos bravios das serras. E é essa capacidade de moldar o meio, de verdadeiramente fazer a Natureza mau grado todas as limitações de bicho, de ser humano mortal que, ao ver de Torga fazem do homem único ser digno de adoração.
Considerado por muitos como um avarento de trato difícil e carácter duro, foge dos meios das elites pedantes, mas dá consultas médicas gratuitas a gente pobre e é referido pelo povo como um homem de bom coração e de boa conversa.
Torga era conhecido popularmente nos meios intelectuais de Coimbra como o rei dos chatos.
Fonte: Wikipédia

(Atente-se à beleza universal deste poema dedicado aos Poetas)
Poet'anarquista

AOS POETAS

Somos nós
As humanas cigarras!
Nós,
Desde os tempos de Esopo conhecidos.
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos
A passar!...

Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras,
Asas que em certas horas
Palpitam,
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura!
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz!
Vinho que não é meu,
mas sim do mosto que a beleza traz!

E vos digo e conjuro que canteis!
Que sejais menestreis
De uma gesta de amor universal!
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural!
Homens de toda a terra sem fronteiras!
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!
Crias de Adão e Eva verdadeiras!
Homens da torre de Babel!

Homens do dia a dia
Que levantem paredes de ilusão!
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão!



Miguel Torga

2007 ANO DE CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO 

POEMAS DE TORGA

1 comentário:

Anónimo disse...

gostei muito deste post. Beijinhos