segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

POESIA - SEBASTIÃO DA GAMA

O poeta português Sebastião Artur Cardoso da Gama nasceu em Vila Nogueira de Azeitão, concelho de Setúbal, a 10 de Abril de 1924, e faleceu em Lisboa, vítima de tuberculose renal, no dia 7 de Fevereiro de 1952. A sua obra, com forte ligação à Serra da Arrábida onde viveu, veio a ter grande influência poética no seu percurso literário, dando origem ao primeiro livro de estreia, «Serra-Mãe».
Poet'anarquista
Sebastião da Gama
Poeta Português
BREVE BIOGRAFIA

Poeta português, natural de Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal. Concluiu o curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1947, e ainda nesse ano iniciou a sua actividade de professor, que exerceu em Lisboa, Setúbal e Estremoz. Foi colaborador das revistas Árvore e Távola Redonda. 

Sebastião da Gama ficou para a história pela sua dimensão humana, nomeadamente no convívio com os alunos, registado nas páginas do seu famoso Diário (iniciado em 1949). Literariamente, não esteve dependente de qualquer escola, afirmando-se pela sua temática (amor à natureza, ao ser humano) e pela candura muito pessoal que caracterizou os seus textos. Atingido pela tuberculose, que causaria a sua morte precoce, passou a residir no Portinho da Arrábida, com a panorâmica serra da Arrábida a alimentar o culto pela paisagem presente na sua obra. Foi, entretanto, instituído, com o seu nome, um Prémio Nacional de Poesia. 

Estreou-se com Serra Mãe, em 1945. Publicou ainda Loas a Nossa Senhora da Arrábida (1946, em colaboração com Miguel Caleiro), Cabo da Boa Esperança (1947) e Campo Aberto (1951). Após a sua morte, foram editados Pelo Sonho é que Vamos (1953), Diário (1958), Itinerário Paralelo (1967), O Segredo é Amar (1969) e Cartas I (1994).

Fonte: Astormentas

PEQUENO POEMA

Quando eu nasci, 
ficou tudo como estava,
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...

Sebastião da Gama

ORAÇÃO DE TODAS AS HORAS

Agora, 
que eu já não sei andar nas trevas, 
não me roubes a Tua Mão, Senhor, 
por piedade! 
Voltar às trevas não sei, 
e sem a Tua Mão não poderei 
dar um só passo em tanta Claridade. 

Pelas Tuas feridas minhas, pelas tristezas 
de Tua Mãe, Jesus. 
não me deixes, no meio desta Luz, 
de pernas presas... 

Não me deixes ficar 
com o Caminho todo iluminado 
e eu parado e tão cansado 
como se fosse a andar ...

Sebastião da Gama

OS QUE VINHAM DA DOR

Os que vinham da Dor tinham nos olhos 
estampadas verdades crudelíssimas. 
Tudo que era difícil era fácil 
aos que vinham da Dor diretamente. 

A flor só era bela na raiz, 
o Mar só era belo nos naufrágios, 
as mãos só eram belas se enrugadas, 
aos olhos sabedores e vividos 
dos que vinham da Dor diretamente. 

Os que vinham da Dor diretamente 
eram nobres de mais pra desprezar-vos, 
Mar azul!, mãos de lírio!, lírios puros! 
Mas nos seus olhos graves só cabiam 
as verdades humanas crudelíssimas 
que traziam da Dor diretamente.

Sebastião da Gama

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