sexta-feira, 16 de março de 2012

POETAS DO CONCELHO D' ALANDROAL

XVII DÉCIMAS

Décimas pelo poeta Moisés José Ramalho, nascido a 6 de Outubro de 1934 na aldeia de Hortinhas, freguesia de São Pedro de Terena do concelho de Alandroal. Foi profissionalmente cabouqueiro de mármores e começou a escrever poesia ainda muito jovem. As décimas de sua autoria que hoje se publicam são dedicadas a um outro grande poeta do concelho de Alandroal, Anastácio Pires.
Poet'anarquista
Moisés José Ramalho
Poeta Popular

MOTE

És poeta sem fronteira
Amigo Anastácio Pires
Vás à festa e vás à feira
P'ra dizeres e p'ra ouvires.

Glosas

Recordar o teu passado
Toca-me no coração
No tempo da escravidão
Foste bem martirizado.
Preparavas o arado
P'ra fazeres a sementeira
Até o pão ir p'rá eira
Havia alqueive* e atalho,
Hoje fazes um trabalho
És poeta sem fronteira.

Pegavas num enxadão
Muitas das vezes sozinho
Com dois dedos de toicinho
E uma fatia de pão.
Fazer a desmoitação**
P'rá tua missão cumprires
P'ra não dizeres nem ouvires
P'ra seres mais explorado,
Hoje és poeta amado
Amigo Anastácio Pires.

Eram quatro da manhã
Tinhas tudo preparado
P'ra ires p'ró pé do arado
Ainda se não via bem.
Esse tempo já não vem
Acabou a parvoeira
Debulhar sem ter eira
Ser-se mal alimentado,
Hoje vás p'ra todo o lado
Vás à festa e vás à feira.

Foste bom p'ra tanta gente
Merecias ser bem tratado
Emprestaste o passado
Estás emprestando o presente.
Coitado do inocente
Se esse tempo torna a vir
Muitos têm que fugir
Do nosso país p'ra fora,
E tens a liberdade agora
P'ra dizeres e p'ra ouvires.

Moisés Ramalho
  
  * Terra lavrada que fica em pousio.
** Arrancar mato, ervas e arbustos das moitas.

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