domingo, 23 de setembro de 2012

POEMAS DE PABLO NERUDA

Assinala-se hoje a morte do poeta chileno Pablo Neruda. Neruda nasceu em Parral, a 12 de Julho de 1904 e faleceu em Santiago, a 23 de Setembro de 1973. Grande poeta chileno e um dos mais importantes poetas da língua castelhana do séc. XX, foi igualmente cônsul do Chile em Espanha e no México. Para saber um pouco mais sobre vida e obra deste autor chileno, consultar a publicação de 23 de Setembro de 2010 com o título «PABLO NERUDA».
Poet'anarquista
Pablo Neruda (junto com Salvador Allende)
Poeta Chileno

ANGELA ADONICA

Hoje deitei-me junto a uma jovem pura 
Como se na margem de um oceano branco, 
Como se no centro de uma ardente estrela 
De lento espaço. 

Do seu olhar largamente verde 
A luz caía como uma água seca, 
Em transparentes e profundos círculos 
De fresca força. 

Seu peito como um fogo de duas chamas 
Ardía em duas regiões levantado, 
E num duplo rio chegava a seus pés, 
Grandes e claros. 

Um clima de ouro madrugava apenas 
As diurnas longitudes do seu corpo 
Enchendo-o de frutas extendidas 
E oculto fogo.

Pablo Neruda

A DANÇA

Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
Ou flecha de cravos que propagam fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e
Leva dentro de si, oculta, a luz daquelas flores.
E graças a teu amor, vive oculto em meu
Corpo o apertado aroma que ascende da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde.
Te amo diretamente sem problemas nem orgulho;
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

Senão assim, deste modo, em que não sou nem és.
Tão perto de tua mão sobre meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Pablo Neruda


Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.

Pablo Neruda

1 comentário:

Anónimo disse...

Quando se atinge a dimensão de Pablo Neruda, sempre se criam em volta lendas e mitos. Muitas vezes, até, não chegam a ser lendas ou mitos, são simples passagens do quotidiano que, no entanto, passam a fazer parte do "diz que disse" dessas pessoas.

É nesse âmbito, do "diz que disse", que me atrevo a repetir uma historieta que me contaram lá pelo sul do Chile, nas margens do estreito de Magalhães, já lá vão um bom par de anos.

Vendo-a exactamente pelo preço que a comprei. Foi assim:

Quando, por volta de 1920, Pablo Neruda, ainda com o nome de Neftalí Reyes, recebeu um prémio de poesia infantil das mãos de Gabriela Mistral, na altura professora de uma escolinha de província, ficou espantado com as palavras daquela senhora alta, com um vestido comprido e aspecto severo, que lhe dizia para não deixar de escrever, pois a sua poesia prometia muito.
Como todos sabemos, Neruda, seguiu o conselho e nunca mais deixou de escrever. E no exercício desse ofício, ao longo dos anos, veio a tornar-se amigo de Gabriela Mistral. Amigos nas letras, amigos nos propósitos políticos e amigos pessoais.
Muitos anos depois, quando Gabriela já tinha morrido, Neruda voltou à cidadezinha em que tinha recebido aquele prémio de poesia infantil, das mãos e das palavras da grande poetisa chilena.
As alunas da escola que visitava, cantavam à passagem de Neruda, e um dos acompanhantes do poeta, perguntou a uma das jovens que estava na fila:
- Estás a cantar ao maior poeta do Chile?
- Não - respondeu a rapariga - estou a cantar ao senhor Neruda, que é um grande poeta, mas o maior poeta do Chile é Gabriela Mistral.

Neruda, que ouvira o diálogo, sorrindo para a jovem, disse-lhe: -Hei-de contar isto a Gabriela.... esteja ela onde estiver.... e como ela vai gozar!

Gabriela Mistral, prémio Nobel da literatura em 1945.
Pablo Neruda, prémio Nobel da literatura em 1971 (salvo erro).

Que os leitores que lerem estas linhas, as aceitem como uma homenagem a todos os que se dedicam à poesia.

O.W.Calabrese