quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

POESIA - ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA

O poeta neogarretista, autor dramático e jornalista português António Correia de Oliveira, nasceu em S. Pedro do Sul, a 30 de Julho de 1878. Foi o primeiro escritor português a ser nomeado para o Prémio Nobel, mas acabou por ser Gabriela Mistral a vencedora. Na hora de receber o prémio,  e num gesto de grande humildade, a escritora referiu não ser ela a merecedora mas sim o autor do «Verbo Ser e Verbo Amar», António Correia de Oliveira. O poeta faleceu em Esposende, a 20 de Fevereiro de 1960.
Poet’anarquista
António Correia de Oliveira
Poeta Português
SOBRE O POETA…

Foi, sem dúvida, um dos poetas mais conhecidos da sua geração. Frequentou o Seminário de Viseu, mas interrompeu muito cedo os estudos – o que levaria, mais tarde, Maria Amália Vaz de Carvalho a considerar esse estado de «inocência do espírito» como uma das suas qualidades mais positivas. Tendo feito uma breve passagem pelo jornalismo no Diário Ilustrado, ingressou no funcionalismo público. A partir do 1912, data do seu casamento com uma senhora da aristocracia minhota, passou a viver na Quinta de Belinho, situada na freguesia das Antas, nas proximidades de Esposende.

Publicou o primeiro livro aos 16 anos, encontrando-se desde essa obra definida a sua arte poética: uma simplicidade na trova ao gosto popular, um pendor narrativo que aproxima mais a sua lírica de certo romantismo epigonal que da genuína tradição portuguesa, os temas de exaltação patriótica, que o transformaram, a partir de certa altura, no poeta «oficial» do regime político vigente – conceito, aliás, injustamente redutor.

Poeta de estro fácil, nele se conjugam o realismo junqueiriano, o idealismo cristão, o panteísmo tocado de saudosismo, à Pascoaes, do qual o separava a intuição filosófica: importa, todavia, não esquecer que a sua vastíssima bibliografia inclui também obras de longo fôlego e alta inspiração, como, em verso branco, as Tentações de Sam Frei Gil, 1907.

José Régio reconheceu nele «um cantor cheio de frescura e encanto, nas suas quadras e quintilhas em que a arte de Sá de Miranda se alia ao capricho da inspiração popular», e Jacinto do Prado Coelho diz, quanto ao lírico religioso, que, dos portugueses, «nenhum terá vivido com mais altura os mistérios do Génesis e da Redenção».

António Correia de Oliveira foi um dos companheiros de Raul Brandão, que a ele várias vezes se refere, com ternura, nas Memórias.
Fonte: http://www.dglb.pt/

A DESPEDIDA

Três modos de despedida
Tem o meu bem para mim:
- «Até logo»; «até à vista»:
Ou «adeus» – É sempre assim.

«Adeus», é lindo, mas triste;
«Adeus» … A Deus entregamos
Nossos destinos: partimos,
Mal sabendo se voltamos.

«Até logo», é já mais doce;
Tem distancia e ausência, é certo;
Mas não é nem ano e dia,
Nem tão-pouco algum deserto.

Vale mais «até à vista»,
Do que «até logo» ou «adeus»;
«À vista», lembra, voltando,
Meus olhos fitos nos teus.

Três modos de despedida
Tem, assim, o meu Amor;
Antes não tivesse tantos!
Nem um só… Fora melhor.

António Correia de Oliveira

O PERFUME

O que sou eu? – O Perfume, 
Dizem os homens. – Serei. 
Mas o que sou nem eu sei... 
Sou uma sombra de lume!

Rasgo a aragem como um gume 
De espada: Subi. Voei.
Onde passava, deixei
A essência que me resume.

Liberdade, eu me cativo: 
Numa renda, um nada, eu vivo 
Vida de Sonho e Verdade!

Passam os dias, e em vão! 
– Eu sou a Recordação; 
Sou mais, ainda: a Saudade.

António Correia de Oliveira

PELA PÁTRIA

Ouve, meu Filho: cheio de carinho,
Ama as Árvores, ama. E, se puderes,
(E poderás: tu podes quanto queres!)
Vai-as plantando à beira do caminho.

Hoje uma, outra amanhã, devagarinho.
Serão em fruto e em flor, quando cresceres.
Façam os outros como tu fizeres:
Aves de Abril que vão compondo o ninho.

Torne fecunda e bela cada qual,
a terra em que nascer: e Portugal
Será fecundo e belo, e o mundo inteiro.

Fortes e unidos, trabalhai assim...
- A Pátria não é mais do que um jardim
Onde nós todos temos um canteiro.

António Correia de Oliveira

13 comentários:

nicha costa disse...

Boa noite, gostaria de partilhar convosco que possuo um livro do poeta António Correia D´Oliveira, intitulado, "Na hora incerta" ou "A nossa Pátria" Livro 8º "Os sinos do cativeiro". Editado em 1927.
Obrigada por me permitirem partilhar
Eunice D´Oliveira

Camões disse...

Eu é que tenho a agradecer o seu comentário.

Pena é não estarmos perto, pois quem iria pedir para partilhar seria eu.

Já agora, se me permite...

Acaso Eunice D'Oliveira é da linhagem do poeta António Correia D'Oliveira?

Obrigado!... bem-vinda ao meu espaço de artes!!

Carlos Camões Galhardas

nicha costa disse...

Ola bom dia Camões,obrigada por responder. Tenho fotos da capa do livro posso envia-las ou mesmo se preferir uma copia do livro, pode também velas no meu faceboock "nicha costa". O meu avô materno era sobrinho do poeta António Correia D`Oliveira.

Obrigada e um bom dia.

Lourenço disse...

Olá Eunice.

Estou a ver que é minha prima!
Como se chama o seu avô, primo do meu bisavÔ?

Obrigado,
Lourenço Corrêa d'Oliveira

Lourenço disse...

Boa tarde.

Cara Eunice. Gostava muito de saber o nome do seu avô materno.

Com os melhores cumprimentos,
Lourenço Corrêa d'Oliveira

nicha costa disse...


Boa noite Lourenço!

peço desculpas pela resposta tardia
mas tenho andado afastada do meu PC.
O meu avô chamava-se Eduardo Correia D´Oliveira nascido em Tondela em 1910.

Atenciosamente,
Eunice D´Oliveira R.da Costa

Manuel Caldas disse...

Boa noite! Há dias passei no cemitério de Agramonte no Porto e vi lá numa placa uns versos de António Correia de Oliveira. Peguei na caneta e anotei os versos para depois pesquisar aqui na net o resto do poema. Acontece que perdi esse papel e agora não tenho possibilidade de lá voltar para voltar a anotar. Será que o proprietário ou alguma outra pessoa que frequente este espaço me poderá ajudar. Sei que os versos falam nos mortos, e até creio que dizem que eles são uma sombra dos vivos, ou então é ao contrário. Muito obrigado, desde já pela informação que me possam prestar. E parabéns pelo blog. Vim cá parar por causa do que atrás referi. A partir de agora irei ler e comentar o que por aqui se escreve.

Camões disse...

Boas, Manuel Caldas.

Sobre os tais versos que fala, e que desconheço, é com prazer que irei dar uma ajuda fazendo pesquisa. Vamos lá a ver o que se consegue...

Se encontrar os versos farei publicação em primeira página no blogue, pelo que vá estando atento.

Talvez também fosse boa ideia tentar entrar em contacto com Eunice D´Oliveira R.da Costa, familiar do poeta.

Sobre a sua intervenção no blogue Poet'anarquista de minha autoria, sinta-se livre para ler e comentar o que por aqui vai sendo publicado. A porta está aberta!

Também eu escrevo poesia que poderá ler e comentar aqui no blogue, com os pseudónimos Matias José, Poetavadio e POETA.

Um abraço,

Carlos Camões Galhardas

Manuel Caldas disse...

Muito obrigado, Carlos Camões. Sim, passarei a ler as suas poesias. E caso eu consiga localizar primeiro que o senhor o poema de que lhe falei, pode crer que terei imenso gosto em enviar-lho para publicação. Com muita pena minha, não sei como entrar em contacto com a D. Eunice D. Oliveira R.da Costa, familiar do poeta. Creio, porém, que juntos vamos conseguir localizar o poema.
Um abraço
Manuel Caldas

Camões disse...

Caro Manuel Caldas.

Ontem, 7 de Outubro de 2014, fiz publicação no blogue com o título «FIM E PRINCÍPIO», POR ANTÓNIO CORREIA D'OLIVEIRA.

É um excerto da obra do autor «A Criação», onde poderá ler três sonetos: Fé, Pátria e Liberdade.

No soneto Liberdade, 1º verso do 1º terceto diz assim:

«Minha sombra de vida, fez-se morte;»

Será o que procuramos?

Agradeço que dei-a uma leitura na publicação que faço referência.

Um abraço,

Carlos Camões Galhardas

Camões disse...

Ainda aqui voltei, Manuel Caldas.

Eunice D´Oliveira R. da Costa tem página no facebook com o nome «nicha costa».

Se o amigo tem página no facebook, envie-lhe pedido de amizade. Pode ser um caminho. Eu vou igualmente tentar por aí.

Um abraço,

Carlos Camões Galhardas

Manuel Caldas disse...

Boa noite, Carlos camões!

Muito obrigado pelo interesse demonstrado ao meu pedido. Temos notícias. Consegui finalmente encontrar os versos que tinha anotado e através deles o poema completo. Não sei qual o livro onde foi publicado. Todavia,num site encontrei-o com o título "Na Hora Incerta É Portugal Que Vos Fala" e num outro site com o título "Novo Sermão da Montanha". Ao certo, ao certo, não sei se algum deles é o título correcto do poema, ou se tem algum, porém, aqui fica tal como o descobri. Os versos que tinha lido à entrada do cemitério de Agramonte no Porto, e me tinham ficado na cabeça de forma "atabalhoada", eram estes:

"Honra os mortos. É deles
Que tu vens. Deves-lhe culto
Que são os vivos? - A sombra
Dos mortos que faze vulto.

Portugal assim dizia,
Quasi sempre em dôr tamanha!
Assim prégou aos seus filhos
Novo Sermão da Montanha.

Honra os teus Mortos. E' deles
Que tu vens. Deves-lhe culto
Que são os vivos? - A Sombra
Dos Mortos que fazem vulto.

- Povo! Povo! eu chamo... Escuta.
Repara em mim: vê e pasma!
Sombra e chagas do que fui...
Fiseram de mim um fantasma.

Onde irei? A ser escravo?
Velho e rôto vagabundo
Aos encontrões, ás esmolas,
Aos enxovalhos do mundo...

Povo! em ti, confio e espero
Como foi no tempo antigo.
Has de salvar-me...Ou ao menos
Saberás chorar comigo.

(Antonio Corrêa d'Oliveira)

Anónimo disse...

Sou bisneta da irmã de António Correia de Oliveira, Maria Emília Correia de Oliveira natural de S. Pedro do Sul.