sábado, 27 de abril de 2013

POESIA - JOSÉ WATANABE

O poeta peruano José Watanabe Varas, nasceu em Laredo, Trujillo, departamento da Liberdade, a 17 de Março de 1945. Poeta autodidata, foi também roteirista, guionista de cinema e teatro, e autor de documentários para televisão. É considerado um dos mais importantes escritores de poesia contemporânea em castelhano, muito reconhecido na América Latina e Espanha. José Watanabe faleceu em Lima, no Perú, a 25 de Abril de 2007.
Poet’anarquista
José Watanabe Varas
Poeta Peruano
Poeta e Roteirista

José Watanabe nasceu em 1946 em Laredo, departamento da Liberdade, ao norte do Peru. Sua mãe Paula Varas, uma peruana das montanhas e seu pai Harumi Watanabe, japonês que aprendeu a arte do haiku.

Watanabe teve uma infância muito pobre, seus pais trabalhavam como agricultores numa plantação de açúcar no norte do país, até que o destino lhes tocou em sorte: eles ganharam na loteria de Lima e Callao e viajaram a Trujillo, capital da província. 

Estabeleceu-se em Lima para prosseguir os estudos superiores em arquitetura, mas dois anos depois acabou por desistir do curso. A sua formação foi essencialmente autodidata que desenvolveu não só como poeta, mas também como roteirista e em documentário, escritor de história infantil e dramaturgo.

A sua experiência começou com a poética «Álbum de Família», publicado em 1971, obra que lhe rendeu o Prémio jovem poeta do Peru.

A sua obra poética é uma das mais belas e cativantes da poesia contemporânea em língua castelhana.
José Watanabe publicou cinco poemários: «Album de Família, «O Fuso da Palavra», «História Natural», «Coisas do Corpo» e «Habitou entre Nós». Entre as antologias que recolhem a sua obra, destacamos «O Guardião do Gelo», publicada pelo Grupo Editorial Norma, e «Path Trough the Canefields», publicada em língua inglesa. O seu poemário «O Guardião do Gelo» recebeu o Prémio especial «Lezama Lima» outorgado pela Casa das Américas em Cuba.

Para o teatro, escreveu Antígona numa personalíssima versão da clássica tragédia de Sófocles. Escreveu também o roteiro de películas como «A Cidade e os Cachorros», dirigida por Francisco Lombardi, uma adaptação da primeira novela de Mário Vargas Llosa; «Maruja no Inferno», também de Francisco Lombardi baseada na novela «Não uma, senão muitas mortes» de Enrique Congrains; «Alias a Gringa», de Alberto Durant, película baseada num delinquente que se tornou conhecido pela sua habilidade para escapar dos cárceres peruanos; e finalmente «Reportagem à Morte», dirigida por Danny Gavidia, baseada num dramático motim no cárcere de Lima, «O Sexto».

Hoje é considerado uma das vozes essenciais da poesia contemporânea em castelhano, um reconhecimento crescente na América Latina e Espanha.

José Watanabe morreu em Lima em 25 de abril de 2007
Fonte: www.lecturalia.com

RESPONSO ANTE O CADÁVER DE MINHA MÃE

Falta alegria neste cadáver.
Que culpa tão imensas
que falta alegria a um cadáver.
Quer-se trazer algo radiante ou agradável
(eu recordo
sua felicidade de anciã comendo um bife macio),
mas Dora ainda não voltou do mercado.

Falta alegria neste cadáver,
alguma alegria pode ainda entrar em sua alma
que está estendida sobre seus pés de pó?

Que inúteis somos
ante um cadáver que se retira tão desolado.
Já não podemos consertar nada. Alguém guarda ainda
essas diminutas maçãs de pobre
que ela confeitava e em suas mãos generosas
pareciam vindas de uma árvore esplêndida.

Já está se retirando com seu anel de viúva.
Já vai embora, e não lhe prometas nada:
Vai provocar nela uma frase sarcástica
e lapidária que, como sempre, te deixará feito um idiota.
Já vai embora com seu costume de ir dançando
pelo caminho
para balançar o filho que levava nas costas.
Onze filhos, Senhora Coelha, e nenhum sabe que diabos fazer
para que seu cadáver recupere a alegria.

José Watanabe

PAISAGEM IMÓVEL

Mais ambulantes que os homens
ou mais desalojados
são os infinitos desertos de meu país.
Ainda não encontraram um lugar
para estabelecer-se, e continuamente viajam
assim
se elevam a 10 centímetros do chão
e avançam pairando
como uma suave maré
de areia.
Pelas quatro da tarde, com o vento,
cruzam as rodovias, e nós viajantes
escutamos
seus sussurros:
talvez não haja lugar algum na terra
onde acomodar os trastes
e os ossos.
De noite as dunas se retraem como quermesse,
e sob a lua dos despossuídos
parecem gigantes de espáduas largas
que meditam uma pátria enquanto defecam.

José Watanabe

SOBRE A LIBERDADE

 Pela manhã compraram um pássaro
 como se compra uma fruta
 um ramo de flores.

 Dizem que Hokusai comprava pássaros para libertá-lo0s.

 Também  Da Vinci
 mas medindo-lhes o impulso e o rumo.

 Possivelmente na infância eu tenha pintado pássaros
 mas jamais lhes falei da relação exata com os aviões.

 Estou tentando liberar este pássaro
 para devolver-lhe
 seu direito de morrer no vento.

 Vão me exigir motivos.

 Sentirei a obrigação de falar sobre a liberdade,
 mas a família que é bem lógica
 dirá que apenas só
 com o vento
 a ver que faço.

José Watanabe

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