terça-feira, 22 de outubro de 2013

POESIA - JOÃO APOLINÁRIO

O poeta e jornalista português João Apolinário Teixeira Pinto, mais conhecido por João Apolinário, nasceu em Belas, Sintra, a 18 de Janeiro de 1924. Grande ativista e combatente do fascismo, tendo estado várias vezes preso pelo regime, acabou por exilar para o Brasil onde aí permaneceu alguns anos. Memorizou, em cinco dias, numa pequena cela subterrânea do forte de Peniche, o seu livro de poemas «Morse de Sangue». João Apolinário faleceu no Alentejo, em Portalegre, a 22 de Outubro de 1988.
Poet’anarquista
João Apolinário
Poeta Português
SOBRE O POETA...

Intelectual português que se exilou no Brasil em Dezembro de 1963, por oposição cultural ao regime de António de Oliveira Salazar, João Apolinário nasceu no dia 18 de Janeiro de 1924 em Belas, Sintra. Tinha dois anos de idade quando começou no seu país um período longo de ditadura – 48 anos – com enorme austeridade social, política, económica e cultural.

Tendo frequentado as Faculdades de Direito das Universidades de Coimbra e de Lisboa, onde se graduou, aos 21 anos de idade era jurista, poeta e jornalista.

Foi correspondente de guerra e nessa qualidade fez parte, como tenente do exército francês, em 1945, do primeiro contingente de jornalistas que viu na sua extensão real, física e humana, a devastação causada na Europa pelas forças em conflito na Segunda Guerra Mundial e os horrores dos campos de concentração, o que marcou a sua trajectória.

De volta a Portugal em 1949, opôs-se ao salazarismo e a todas as formas de opressão. 

Depois de 12 anos de exílio no Brasil e, no início de 1975, viveu a liberdade que a Revolução de 25 de Abril de 1974 permitiu ao povo português. 

Até Outubro de 1988, com 64 anos, em Marvão onde vivia com sua mulher, a pesquisadora brasileira Maria Luiza Teixeira Vasconcelos, João Apolinário centrou as suas atenções quase exclusivamente na poesia.

Nos seus últimos 14 anos de vida, editou «Apátridas», «AmorfazerAmor», «Poemas Cívicos», «O Poeta Descalço», «Eco Humus Homem Lógico» e deixou inéditos os «Sonetos Populares Incompletos».

João Apolinário morreu em 22 de Outubro de 1988, na bonita vila alentejana de Portalegre. É pai do músico João Ricardo, criador do grupo Secos & Molhados, e de Maria Gabriela.
Texto de: Maria Luiza Teixeira Vasconcelos

DA ESCRITA

Da poesia
faço
uma raiz
que gera
a haste
oculta
da palavra
em flor

Abro as portas
desta melancolia
fechada no poema
por nascer
e sinto essa magia
suprema

de o escrever

João Apolinário

Poema do livro “Ecohumushomemlógico”

É preciso avisar toda a gente
dar notícia informar prevenir
que por cada flor estrangulada
há milhões de sementes a florir

É preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
engrossando a verdade corrente
duma força que nada detenha

É preciso avisar toda a gente
que há fogo no meio da floresta
e que os mortos apontam em frente
o caminho da esperança que resta

É preciso avisar toda a gente
transmitindo este morse de dores
É preciso imperioso e urgente
mais flores mais flores mais flores

João Apolinário

OS INFINITOS ÍNTIMOS

Não me cinjas
a voz
não me limites

não me queiras
assim
antecipado

Eu não existo
onde me pensas

Eu estou aqui
agora
é tudo

Esta causa
Que me retoma
Em cada dia

Age na esperança
Em que respira
Esta necessidade
De estar vivo

No círculo
em que se fecha
o que em mim
respira
há um suicídio
de memórias
que não cabem
no que em mim
existe

Já fui longe de mais
matando-me nas pedras
que atiro contra mim
sentindo o que não sei

Há por aí alguém
que queira vir comigo
atrás do que seremos
quando tivermos sido?

O que resta de nós
Dorme a noite invisível
Que ainda nos sobra

O que me cansa
é o diabo da esperança

O que ficará de mim
nos restos digitais
do tempo
quando chegar
o fim
de que me ausento

João Apolinário

Sem comentários: