sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

OUTROS CONTOS

«O Judeu», por Bernardo Santareno.
«O Judeu»
Texto Dramático de Bernardo Santareno

722- «O JUDEU»

[Excerto]

(Com desgosto e revolta)

Medo. O mesmo medo que enruga a mais pura alegria, que gera cobras na cama dos amantes, que deita neve nos mais negros cabelos, que seca o leite no peito das mães… No meu país quem governa é o medo! Os olhos e os ouvidos do medo crescem e multiplicam-se por toda a parte: Nem o pai, nem a mãe, nem a esposa, nem o irmão servem de porto abrigado; armadilhas de traição eles podem ser também. Em Portugal, as varejeiras do medo por toda a banda voam e em todas as cousas, vivas e mortas, de imprevisto pousam. Muitas, muitíssimas são; sem conto, realmente. As nojentas, as ardilosas, as pestíferas varejeiras do medo!

(Aponta enérgico para o sítio do palco onde o Estudante Pálido, meio oculto entre as pregas da cortina de fundo, aparece espiando o Judeu:)

Espião miserável, varejeira maldita!!

(O Estudante Pálido, como uma sombra, logo desaparece.)

Conhecem-se pelo fedor a podre, pela luz assassina dos olhos…

(Levanta-se com ímpeto; escarninho, desesperado:)

Na Europa civilizada, Portugal é a fortaleza do Medo; espiões e polícias, os seus alicerces e guarda!

Bernardo Santareno 

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